Novo cenário faz aumentar busca pelas consultorias

27/08/2014

Fonte: Valor Econômico | 27.08.2014
Por Paulo Vasconcellos

 

A Lei Anticorrupção vai provocar, inexoravelmente, uma corrida das empresas brasileiras por políticas de compliance – medidas de aderência às normas legais e às diretrizes de negócio das organizações. A expectativa das empresas de consultoria em governança corporativa é de um aprofundamento no processo.

As multinacionais que operam no Brasil, principalmente americanas e inglesas, já têm programas há mais tempo. As líderes do mercado nacional aderiram não faz muito. O grande desafio agora são as médias, de acordo com as principais consultorias corporativas do país. Algumas registraram um aumento de até 30% na demanda das companhias por compliance desde a promulgação da lei, mas o fenômeno não é generalizado.

“Em alguns ambientes as práticas de negócios são tão heterodoxas que o desafio é fazer a lei se consolidar. A relação público-privada é muito complexa no Brasil”, diz Luiz Marcati, sócio da Mesa Corporate Governance, consultoria especializada em governança corporativa. “No passado, corrupção era um tema fora da agenda dos executivos. O primeiro país a combater o problema foram os Estados Unidos, no fim dos anos 70, mas durante mais de vinte anos ninguém foi condenado. Aqui, as empresas líderes já se mobilizaram. Elas agora querem exigir que parceiros de negócios se adaptem à regra porque se um terceiro pagar propina em nome da empresa ela também se torna responsável”, afirma Cláudio Peixoto, diretor da área forense da KPMG do Brasil.

“A política de compliance ainda é muito nova no Brasil para mudar a percepção sobre a corrupção no país, mas já representa uma mudança de patamar nos negócios”, diz Carolina Ottoboni, da Asap Recruiters, consultoria de recrutamento e seleção de executivos. “Ainda estamos engatinhando”, afirma Eduardo Sampaio, presidente da FTI Consulting no Brasil, uma consultoria global.

Preocupadas com o efeito nos negócios provocado por uma mancha na reputação, as empresas que já aderiram às políticas de compliance buscam reduzir os riscos de fraude com departamentos de controles internos e ferramentas de transparência. As que não têm qualquer relação com o poder público ainda assim têm que tomar cuidado com a corrupção privada. As concessionárias de serviços públicos, com maior risco de incidência em irregularidades, devem buscar mecanismos cada vez mais rigorosos de controle. O treinamento dos funcionários é parte essencial do processo. A disponibilidade de canais de comunicação para os casos de denúncia também integra o rol de recomendações das consultorias.

Códigos de ética ajudam a estabelecer os limites para servidores e parceiros comerciais, mas o condimento principal é a vontade política da companhia. Compliance tem que ser patrocinado pela direção das empresas para poder vencer a cultura organizacional refratária à lei e falta de transparência. Mais: tem custo. O de criação de controles varia de negócio para negócio.

A implantação de uma área específica de compliance representa um gasto ainda maior. O papel dos especialistas é levar a importância do tema aos conselhos de administração e ajudar a definir as diretrizes de controle e comunicação. Nem todos entendem o desafio porque o retorno, em geral, só é mensurável depois que a imagem da empresa fica exposta.

“A maioria das organizações ainda corre atrás para se adequar às regras, mas com a Lei Anticorrupção não há mais desculpa para a empresa alegar que não sabia e que o problema de ética era só do funcionário”, diz Luiz Marcati. “A tendência é que se inaugure um ciclo virtuoso, das empresas aos parceiros de negócios, como o que ocorreu com as normas ISO. Quem não se adequar a padrões éticos, como teve de se adaptar aos padrões de qualidade, não conseguirá mais vender seus produtos ou serviços”, afirma Cláudio Peixoto, da KPMG do Brasil. “Bons programas de compliance ajudam na captação e retenção de profissionais cada vez mais exigentes”, diz Carolina Ottoboni, da Asap Recruiters.